Cidades

Protesto em frente ao Carrefour São Gonçalo

Manifestação foi pacífica na tarde deste domingo, 22. Foto: Colaboração Ezequiel Manhães

O supermercado Carrefour, no bairro de Neves, em São Gonçalo, registrou protesto pacífico na tarde deste domingo (22) contra a morte de João Alberto Silveira Freitas, homem negro, que foi espancado até a morte por seguranças de uma loja da mesma rede, em Porto Alegre, na noite da última quinta-feira (19).

A manifestação em Neves teve início no estacionamento do supermercado, por volta das 14h, às margens da BR-101. O mercado permanece em funcionamento. Apenas uma entrada está com as portas fechadas. Equipes do Batalhão de São Gonçalo (7º BPM) acompanham o ato em conjunto com agentes do RECOM (Rondas Especiais e Controle de Multidão).

Viatura da PM acompanhou os manifestantes. Foto: Colaboração Ezequiel Manhães

No local, os manifestantes clamavam palavras de ordem e resistência a favor do povo preto, como “Vidas negras importam, racistas não passarão” e “Carrefour assassino”. Cerca 100 manifestantes permaneciam do lado de fora da loja, até às 14h20, de forma ordeira. Eles usavam um microfone e caixa de som para fazer revezamento no uso da palavra.

Algumas personalidades da política local marcaram presença no manifesto. Entre eles: Sérgio Perdigão (PSTU), a vereadora eleita em Niterói Benny Briolly (PSOL), o vereador eleitor por São Gonçalo, Professor Josemar (PSOL), os vereadores de Niterói Leonardo Giordano (PCdoB) e Paulo Eduardo Gomes (PSOL), além do deputado estadual Waldeck Carneiro (PT).

A historiadora Claudia Vitalino, presidente estadual da União de Negros pela Igualdade (Unegro) disse que o assassinato do povo preto ‘está normalizado pelo Estado’.

Claudia Vitalino disse que o assassinato do povo preto ‘está normalizado pelo Estado’. Foto: Colaboração Ezequiel Manhães

“Se o nosso dinheiro vale tanto como o de uma pessoa branca, por que não somos tratados com respeito? Se ele [João Alberto] fosse um homem branco não seria executado a pancadas, porque o assassinato de pretos está normalizado pelo Estado. Existe uma pena de morte sucinta e cotidiana da população preta e as pessoas são mortas e executadas duplamente: primeiro ao seu corpo e depois a sua dignidade. Eu vi as imagens, divulguei e estamos pedindo: não comprem em mercado racista e assassino”, lamentou.

Morando em uma comunidade de São Gonçalo, a educadora Vanderlea Aguiar, 44 anos, integrante da Rede Emancipa de Educação Popular, disse que tem três filhos pretos e que precisa ensiná-los diariamente a como se portar nos ambientes públicos para não serem acusados injustamente.

“Eu nunca vi um homem branco sendo assassinado dentro de um supermercado, dentro do shopping. Nós mulheres negras precisamos ensinar aos nossos filhos que não podem mexer, pegar. Só deles estarem dentro do mercado, já são acusados”, denunciou.

Após o ato no estacionamento do Carrefour, os manifestantes seguiram, pela rua Oliveira Botelho, em caminhada até à Praça de Neves. O trânsito chegou a ser completamente interditado por conta do protesto, ainda que de forma rápida.

Manifestantes seguiram em direção à praça do bairro de Neves. Foto: Colaboração Ezequiel Manhães

Repercussão

Outros protestos também foram registrados neste domingo (22) em unidades do Carrefour em Duque de Caxias e no Cachambi, no Rio.

Na noite de quinta (19), véspera do Dia da Consciência Negra, João Alberto, de 40 anos, foi espancado até a morte no supermercado Carrefour, em um bairro da zona norte de Porto Alegre. Os agressores, um segurança do local e um policial militar temporário fora de serviço, foram presos em flagrante.

Ainda na sexta, manifestantes se reuniram numa unidade do Carrefour localizada na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, para protestar contra a morte de João Alberto. O ato que foi convocado pelas redes sociais, começou pouco antes das 16h. Artistas como Pretinho da Serrinha, Nego do Borel, Tico Santa Cruz e Patricia Pillar eram alguns dos participantes. Demais protestos contra a morte de João Alberto também foram realizadas em Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e São Paulo.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse também na sexta (20) ser “escandalosa” a notícia do assassinato “bárbaro” de um homem negro em um supermercado de Porto Alegre, às vésperas do Dia da Consciência Negra.

“O Dia da Consciência Negra amanheceu com a escandalosa notícia do assassinato bárbaro de um homem negro espancado em um supermercado. O episódio só demonstra que a luta contra o racismo e contra a barbárie está longe de acabar. Racismo é crime!”, escreveu o ministro em sua conta oficial no Twitter.

O ministro se referiu à notícia de que quinta (19), na véspera do Dia da Consciência Negra, que foi celebrado nesta sexta (20), um homem negro, de 40 anos, foi espancado até a morte no supermercado Carrefour de um bairro da zona norte de Porto Alegre. Um vídeo que mostra a cena ainda causa grande repercussão nas redes sociais.

Na sexta-feira (20), sem citar o crime, outros ministros do Supremo também se manifestaram por ocasião do Dia da Consciência Negra, entre os quais o presidente da Corte, Luiz Fux, e Luís Roberto Barroso, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“O Brasil foi a sociedade escravocrata mais longa de todo o mundo e por isso devemos cotidianamente nos lembrarmos disso para termos a inclusão social como resgate histórico”, disse Fux pela manhã, durante o Congresso Nacional do Registro Civil.

Em sua conta oficial no Twitter, o ministro Luís Roberto Barroso lembrou o julgamento em que o TSE determinou distribuição proporcional de recursos de campanha entre candidatos brancos e negros. Ele escreveu que o país tem o “dever de reparar a chaga moral da escravidão”.

“Afrodescendentes ajudaram a construir o Brasil. Temos dever de reparar a chaga moral da escravidão, enfrentar o racismo estrutural (estereótipos e subalternidade) e dar oportunidades de acesso a posições de destaque no setor público e privado. Fazer um país para todos”, publicou.

O ministro Alexandre de Moraes também se manifestou nas redes sociais sobre a morte de João Alberto. Segundo o ministro, "o bárbaro homicídio escancara a obrigação de sermos implacáveis no combate ao racismo estrutural".

“Na véspera do Dia da Consciência Negra, marcado pelo preconceito racial, o bárbaro homicídio praticado no Carrefour escancara a obrigação de sermos implacáveis no combate ao racismo estrutural, uma das piores chagas da sociedade. Minha solidariedade à família de João Alberto”, disse.

Em nota, a rede de supermercados Carrefour informou que "entende que as manifestações que estão ocorrendo são legítimas. Nós compartilhamos do mesmo sentimento e estamos à disposição para criar um debate com a sociedade, buscando soluções para que casos como este não voltem a acontecer", diz o comunicado.

Com Agência Brasil

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